6/27/2019

Para um pai que perde um filho, um filho que ganha o mundo.

4/23/2019

cayman


- Cara, eu tô te dizendo. O Volkswagen Virtus é um carro pobre
-Não é não” - Disse o outro jovem, sentado ao banco de passageiro do Porsche Cayman 2019 dirigido pelo amigo de infância. - “É um carro razoável, consegui um bom preço, é um carro que vai cumprir com as tarefas que eu preciso na empresa, e que tem seu diferencial pro público. Você sabe que a volks é dona da Audi, da Man e até da porsche, né? É praticamente a mesma merda. Ele é bonito e o público gosta disso”.
-Mesmo assim, cara. Ele é um carro que não tem o que os carros de luxo devem ter, mas é vendido como se fosse luxuoso. É praticamente um cospobre do audi A3. E se fosse assim, a Fiat também tem a Chrysler. Porque você não comprou um monte de uno 2012 pra sua frota?”
-Não cara, é totalmente diferente. Sabe quem mais comprou Virtus? A Raquel. Aquela menina que o rogério gosta”
-Ele ainda gosta dela? É gado demais. Não vai me dizer que existe Volks Virtus Rosa.”
-Não existe, mas ela mandou pintar, Sabia que a mãe da Raquel obriga ela vender mary kay? A mãe diz que isso vai ensinar a filha ser responsável, comprou um virtus, pintou de rosa, colocou cílios no farol e adesivo da mary kay. Por isso que sempre que o rogério chama ela pra sair, é pra ir no carro dele”
-Raquel não é o tipo de mulher pra andar em virtus nem em nissan kicks, Quer saber? O Nissan kicks é um carro de filho da puta. Todo mundo que tem é filho da puta, digo pelos meus vizinhos. Aquele que bateu no meu porsche tem um kicks, o médico metido tem kicks, até a dona Ana tem kicks, ganhou do filho dela.
- Tá, mas continua falando da raquel.
- Ela é mulher de andar em porsche. Eu adoraria colocar ela aí no seu lugar, fazer ela chupar meu pau o caminho inteiro. O rogério não merece uma mulher daquelas.
Nesse momento, João roberto, o dono do porsche cayman 2019 que foi um presente de aniversário dado pelo pai, pisou no acelerador até a metade e trocou de marcha. Do lado de fora só se podia ouvir o ronco do motor de tração traseira. Dentro do carro, o choro do motor parecia mais um gemido, predominava o rap “Thrift Shop” do Macklemore e Ryan lewis.
- Mas assim, acho escroto vocês dizer isso. Ele te considera um amigo, sabia?
-Cara, agora eu tenho um porsche. Pau no cu  do Rogério e da Raquel.
-Você não acha que esse negócio de carro tá te subindo à cabeça não, joão roberto?
A frase irriitou o motorista João Roberto, que pisou o pé até o fundo no acelerador. João trocava de marcha com uma rapidez incrível. Ele ainda subiu o volume da música.
-Voc~e ainda gosta da Raquel? João Roberto.
-Eu? nunca. ela já está suja pelo bosta do Rogério.
O Porsche roncava, a 140 km/h na estrada.
-Não minta, robertinho. Sua voz não me engana. Você morre de ciúmes do Rogério. Ei! Freia esse carro. Você vai levar multa.
No sentido oposto da via, um caminhão, volkswagem 9150.
-O que a Raquel disse pra você?
-Que preferia o Rogério falido do que você. Que sua arrogância a enoja.
-Quando ela disse isso?
-Bom, eu preciso te contar que almocei lá, semana passada.
O passageiro não podia ver a lágrima que escorria pelo rosto de João roberto. Abriu as janelas do carro. O Barulho do vento á 160 km/h era irritante. Não importa.
João roberto sabia que havia sido traído, que tinha sido quase namorado de Raquel, mas um comentário fora de hora a fizera considerá-lo um infantil sem coração. No mesmo dia em que terminou com ele, a garota procurou por Rogério, agora um ex-amigo.
Sentado ao banco de passageiro do porsche, um intermediário, que não merecia a vida de fofoqueiro e denunciador.
João roberto girou o volante, e enfiou o porsche debaixo do volkswagem 9150 vermelho
-Freia esse carro, João Roberto. - O passageiro tentou puxar o freio de mão, que apenas fez um alto estalo antes de todo o carro se enfiar pelo caminhão.
“Volks beijando outro Volks” Foi o último pensamento do passageiro


“Corno filho da puta, vai morer comigo”. Foi o último pensamento do motorista.
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8/19/2018

Dani

-Filho, é uma festa de adultos.
Daniel sabe que não é a primeira vez que os pais precisam passar uma noite fora, “porque é importante”. O problema de verdade é que dessa vez Dani, como a mãe prefere chamar, não terá o irmão mais velho cuidando dele.
É importante, envolve o emprego do papai” - disse a mãe de Daniel. - “E vai ser tão chato, não vai ter ninguém da sua idade”.
Mas Léo, o irmão de Dani, ele sim era grande o suficiente para ir á festa. Quatro anos mais velho e com síndrome de Down, Léo é dotado de um carisma inocente que encanta os corações mais sensíveis e amedronta os corações mais rígidos.
O que Dani ainda não entendia, é que a presença do irmão na festa chamaria todas as atenções (e toda a pena) para o pai dos garotos, que assim garantia uma promoção seguida de aumento de salário.
Mas Daniel só conseguia entender tudo isso como uma situação muito confusa. De um lado, era velho o suficiente para ficar sozinho em casa, pela primeira vez por uma noite inteira. De outro lado, os pais achavam que ele ainda era só uma criança birrenta e que em uma festa só traria aborrecimentos. Na cabeça de Dani, os ciúmes do irmão se misturavam com a sensação de pequenez e impotência. Estava zangado com os pais mas não queria passar tantas horas sem saber deles.
Nunca imaginei que um filho com Down daria menos trabalho que um Daniel”
A frase dita pelo pai, ecoava na mente de Dani esses últimos dias, até que a família entrou em um carro Volkswagen e foi embora para a festa.
De qualquer modo, Dani precisava se distrair por uma noite inteira.
Não demorou para surgir uma ideia de como ocupar o tempo.
-Coisas de Adulto. Porque eu sou sim grandinho o suficiente.
Mas o que adultos fazem?
Daniel já tinha assistido pornografia antes. Não seria nada de muito novo, mas o garoto decidiu experimentar mesmo assim.
Garota nua ensaio sensual de nudes”
A pesquisa durou um minuto e meio, o tempo que o garoto levou para ter um orgasmo mecânico enquanto massageava a cabeça do penis, repetindo “vai safada, gostosa”, porque a adrenalina de falar essas palavras em voz alta o animou muito.
Com gotinhas de esperma escorrendo pelo shorts, Daniel foi para a cozinha. Poderia fritar um ovo, mas isso também não era novidade. Há anos a mãe o ensinara a fritar ovos. Além do mais, era o dia de fazer coisas de adulto.
O garoto preparou um prato com saladas e grãos, porque era comida de adulto. Com duas colheradas o garoto se convenceu de que estava satisfeito e jogou toda a comida no lixo. Sentiu sede.
Queria beber algo que só os adultos bebessem, e não teve dúvidas. Na sala de estar, em um armário alto, o pai de Daniel e Léo guardava garrafas de elixires proibidos para crianças. Vodca Smirnoff, uísque Scotch, vinho vermelho. No entando, o que o garoto queria mesmo estava na porta mais baixa do armário. Se bebesse qualquer coisa na estante de cima, o pai sentiria falta no outro dia. Mas atrás da porta de madeira haviam garrafas e garrafas das bebidas mais baratas. Aguardente e vodca, algumas garrafas já pela metade, outras fechadas. Ali era possível se deleitar sem ninguém perceber.
Daniel escolheu uma vodca, porque a bebida parecia água, “então deve ser mais fraca”, e o rótulo era azul, cor favorita do menino.
Sentado no sofá, Dani abriu a garrafa e sentiu o cheiro do alcool. Reagiu com náusea, mas a careta logo deu lugar á expressão de curiosidade. O primeiro gole, que na verdade foi um gole bem grandão. O alcool evaporado saia pelas narinas ao mesmo tempo em que tudo queimava no sistema digestivo de Dani.
É muito ruim, mas só um gole deve ser pouco”
Outro volumoso gole se sucedeu. O terceiro, para a surpresa de Dani, não trouxe desconforto nenhum. Fechou a garrafa e a colocou de volta no lugar.
Imediatamente o garoto passou a se sentir fora de si. Não sabia se podia ser tão rápido, talvez fosse a Adrenalina ou algum efeito psicológico. Mas Dani sentiu algo que nunca tinha sentido antes, e isso era demais. Começou a ficar tonto, mas não percebeu bem.
Hahaha. Eu sou demais. Garota nua nudes”
Após um breve cochilo, Daniel acordou no chão da sala. Já eram dez da noite. Devagar se lembrou de ter comido salada e bebido vodca. Era gostoso. Sentiu vontade de beber mais. Dessa vez optou por cachaça. Achou ela pior que a vodca, mas com algo de doce no final.
eu me lembro que o professor disse que o Léo tinha idade mental de metade da idade que ele tem” -o garoto procurou por um bloco de anotações -”dezesseis dividido por dois”.
O garoto não percebia sua caligrafia tremida, escrevia e raciocinava com facilidade, porém com lentidão.
A idade mental dele é de oito anos. Então mesmo ele sendo quatro anos mais velho na idade eu sou quatro anos mais velho da cabeça. Eu deveria estar naquela festa”
Eu sou um ninja”. O garoto gargalhava escondido atrás da árvore, enquanto assistia o vizinho chegar do trabalho. “Dar um susto vai ser divertido, ele nem vai me ver”.
De trás da árvore, Daniel arremessou um ovo em direção ao vizinho, e se escondeu.
Ainda zonzo pelo alcool, o ovo se espatifou na lixeira pŕoxima ao vizinho.
O que Daniel não sabia é que o vizinho, irritado, ouvira suas gargalhadas, viu o arremesso do ovo e viu o garoto correndo para dentro de casa.
Na consciẽncia de Daniel tudo tinha acontecido furtivamente e o vizinho super confuso tentava descobrir o que aconteceu. “Está chovendo ovos, ahahahhaha”
cinco minutos se passaram, e não havia sinal de nenhuma alma viva em toda a rua. O menino bêbado se aproximou da casa do vizinho, espiou pelas frestas do portão, procurando pela localização das janelas.
Com um forte estalo, outro ovo espatifa no vidro da janela. Daniel começa a correr em direção á sua casa. O portão da casa do vizinho se abre. Daniel tropeça no meio fio e bate o queixo no chão.
Um monstro que anda usando pernas e braços, como um gorila raivoso, veio em direção á Daniel. A última lembrança do garoto é a de ser puxado pelo asfalto, segurado pelos pés. Daniel se lembra de dentes afiados, grunhidos e uma baforada quente em seu rosto.

6/14/2018

Na infãncia, a mãe lhe disse que “Bonecas são coisas de menina”. E assim Roberto cresceu acreditando que não deveria ter bonecas. (E isso não é uma história LGBT).Ainda, o fascínio não saia da beça. A boneca que canta e dança que a prima lhe mostrava, a boneca chorona que a colega e escola exibia no “dia do brinquedo”. Roberto queria ter sua pŕopria boneca.
Durante o dia, Roberto jogava Bola. Pela noite, usava seu celular para pesquisar sobre a história das Barbies e maquiagem.
Enquanto os fracos transformam frustrações em desculpas, Roberto transformava em motivação. Faria Bonecas um dia.
-O que um olho disse pro outro depois de uma piada sem graça? - Rí mel. Ri,meu. Entendeu?
Nenhum dos outros garotos sabiam o que é um rímel, mas jussara, “a menina do rolẽ”, dera gargalhadas com o trocadilho. Assim foi que roberto ganhou sua primeira boneca.

Já aos 22 anos, Jussara e Roberto estavam noivos. No mesmo dia em que decidiram marcar o casamento, Jussara virou uma bola boneca.
Roberto a levou para um motel na beira da estrada, e saiu de lá em seu Fiat, com jussara deitada no banco de trás. Em casa, colocou a garota na cama e começou a despi-la. Para conservar, pensou em usar formol. Mas a plicação, cheiro e preço eram inviáveis.
Roberto passou com todo o cuidado do mundo, camadas finas de uma mistura de cimento e gesso por cima do corpo de jussara. Por fora, uma bela estátua, que mais tarde recebeu um vestido de noiva. Por dentro, dentes rangendo em um último espasmo de vida.
Roberto conquistou Daiane, que também virou uma estátua, com um vestido vermelho.
Renata ganhou uma camiseta e um boné.
Mas em Marisa, Roberto não quis usar cimento. Tomou vergonha na cara e usou tudo o que aprendeu no tutorial de taxidermia. A Vagina de Marisa deveria ser conservada.


5/12/2018

O último Banquete de Jorge


O miserável agradeceu a marmita:
-Muito Obrigado dona Lourdes. Se precisar de algum trabalho de casa como carregar caixas ou cortar a grama, eu faço na maior boa vontade para a senhora.
-Não há de quê, filho. Já estive em situação parecida com a sua. É bem ruim precisar pedir por coisas tão básicas como comida.
Jorge, o miserável, andou por meia hora até o parque, onde entrou no banheiro público e cagou.
Terminado o serviço, usou  a pia. Enquanto jogava água na cara para umedecer a barba e se refrescar, pensava na situação anterior.
“Dona Lourdes já foi uma miserável”
“isso explica aquelas cicatrizes no rosto, não?”, ”marcas de um estupro, algo assim”
“E ela tem toda aquela comida guardada, só para ela”
“Quantas pessoas se satisfariam com aquilo tudo?”
No Boca-a-boca a palavra se espalhou: Um banquete gratuito no sábado, na esquina do parque Água Azul.
Uma mesa enorme, tirada da casa de Dona Lourdes, estava estendida com toalha e comida, desde a madrugada. Às seis da manhã começaram a chegar os primeiros pratos. Cuscuz, arroz, ovos e enlatados em um pote volumoso. Os miseráveis se serviam.
Sobrou comida para os que chegaram ás 9 e comeram coisa fria.
Dois homens gordos e barbudos chegaram em um sedã e colocaram pães (amanhecidos) na mesa, junto com a propaganda de uma padaria local.

3/09/2018

Ataíde


-Ou. P...p...para onde vai esse ônibus?
-Esse aqui vai lá pro terminal Nova Bahia
-Vixi. Não sei não, acho que peguei o ônibus errado. O que é isso que você está lendo?
-Edgar Allan poe. conhece?
-Não conheço não. Essas letrinhas aí eu nem enxergo. Minha ex mulher que lia, um livro desses daí ela lia num supetão. Meus filho lia também. Mas eu não falo com eles faz tempo. Canto tempo você leva pra ler um livro desses?
-Eu vou lendo devagarinho, um pouco por dia. Não para pra contar não
-Hã?
-Leio um pouco por dia, nunca contei.
-Ah... Eu nem sei pra onde esse ônibus vai.
-Pra onde você quer ir?
-O quê? Ih rapá, pra onde eu quero ir? Eu queria minha mãe me abraçando.
-Ah.
-Vou lá pra casa da minha mãe mas esse ônibus tá indo pro lugar errado. Leia aí. pode ler
...