5/12/2018

O último Banquete de Jorge


O miserável agradeceu a marmita:
-Muito Obrigado dona Lourdes. Se precisar de algum trabalho de casa como carregar caixas ou cortar a grama, eu faço na maior boa vontade para a senhora.
-Não há de quê, filho. Já estive em situação parecida com a sua. É bem ruim precisar pedir por coisas tão básicas como comida.
Jorge, o miserável, andou por meia hora até o parque, onde entrou no banheiro público e cagou.
Terminado o serviço, usou  a pia. Enquanto jogava água na cara para umedecer a barba e se refrescar, pensava na situação anterior.
“Dona Lourdes já foi uma miserável”
“isso explica aquelas cicatrizes no rosto, não?”, ”marcas de um estupro, algo assim”
“E ela tem toda aquela comida guardada, só para ela”
“Quantas pessoas se satisfariam com aquilo tudo?”
No Boca-a-boca a palavra se espalhou: Um banquete gratuito no sábado, na esquina do parque Água Azul.
Uma mesa enorme, tirada da casa de Dona Lourdes, estava estendida com toalha e comida, desde a madrugada. Às seis da manhã começaram a chegar os primeiros pratos. Cuscuz, arroz, ovos e enlatados em um pote volumoso. Os miseráveis se serviam.
Sobrou comida para os que chegaram ás 9 e comeram coisa fria.
Dois homens gordos e barbudos chegaram em um sedã e colocaram pães (amanhecidos) na mesa, junto com a propaganda de uma padaria local.