Sei que não é a primeira vez que digo isso,mas nunca
acreditei da existência de um Deus,um Diabo,um Paraíso com uvas e virgens,um
Inferno cheio de mármore e fogo.
Até que eles dois resolveram brincar comigo.
E parece que eles gostam tanto te mim,que estão brigando
por minha alma.
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era a forma que eu tinha de acordar bem.Me levantei,e fiz o que sempre
faço ao acordar,peguei os dois porta-retratos que estavam na escrivaninha do
lado da cama,um com a foto de meus pais e minha irmã mais nova.Eu os
amava.Ainda me arrependo de não ter falado um “eu te amo” aos três antes de
partir para o outro lado do país,as faculdades de minha cidade não eram
boas,cidades do interior sabe?
Na outra mão,eu tinha uma foto de Elizabeth,minha
amada,que ficou na cidade.Me arrependo de não ter dito “eu te amo” pra ela
também
Agora eu era um universitário,morando num
apartamento,sozinho,numa cidade com mais de um milhão de pessoas.De que me
adiantava ter um milhão de pessoas se eu só queria quatro?
Nesta capital eu não tinha muitos amigos,na verdade não
passavam de colegas de sala na faculdade.
Ainda sentado na cama,comecei a me lembrar de um
sonho,não sou muito bom nisso,mas as memórias apareciam.
‘Eu estava acordando,como se fosse um dia normal,e olhei
para as fotos.Ouvi um barulho de gritos no andar debaixo,seguido de um
“Socorro,uma aranha gigante!”.Eu me vesti e desci as escadas para ver o que
aconteceu,o barulho vinha do apartamento de Júlia,a única vizinha que não
pensava em arrancar meu pescoço por ouvir música alta na madrugada.Mas era a
forma que eu tinha de espantar a solidão,ou me enganar fingindo que ela sumiu.
Eu bati na porta,Júlia abriu e disse “Ainda bem que você
está aqui,tem uma aranha enorme no meu banheiro.Só então eu reparei que ela
estava enrolada na toalha.
Entrei,peguei uma vassoura na cozinha dela e fui em
direção ao banheiro,eu já sabia onde era pois os apartamentos eram
iguais,embora o dela fosse limpo.Ela veio atrás de mim,eu perguntei aonde
estava a aranha,e ela respondeu que atrás da privada.Eu abri a porta,e a aranha
era maior que eu.o banheiro tinha ficado gigante,e haviam pilares segurando o
teto.Milharem de aranhas pequenas vinham em nossa direção,tentamos correr,mas
havia uma outra aranha monstruosamente grande na porta.Todas as aranhas eram
aparentadas com viúvas-negras,só que em diferentes tamanhos.
As aranhas pequenas foram todas em direção á Júlia,sua
toalha caiu e as aranhas começaram a subir seu corpo.Eu estava no
chão,encolhido no canto da sala de estar,ela sendo atacada na minha frente e
gritando.Até que seu corpo estava totalmente negro,cobertos pelas aranhas,e ela
veio em minha direção.Sua voz agora estava grave.Seus olhos mortos,sua boca
sangrava,e seu corpo era um monte de aranhas agarradas umas as outras
-Seu ateuzinho de
merda,disse Júlia.Você não merece um dos átomos de seu corpo.Ah é!átomos não
existem!HA HÁ HÁ!Eu te dei a chance,mas agora o inferno é todo seu,e eu
cuidarei bem de você lá!
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O chão então escurecia e eu cai num infinito buraco,até
que acordei com o barulho do despertador.Me levantei e fiquei olhando para o
teto por alguns segundos.Sentei na cama,olhei para meu pijama,peguei as fotos e
comecei admirar a beleza de Elizabeth naquela fotografia.
Foi então que as memórias de um sonho começaram a
aparecer...
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