Recentemente, morri duas vezes. Em uma destas, eu estava no purgatório, aguardando minha vez de ser chamado. Era como uma sala de espera, com paredes cinzas infinitas, chão de carpete e cadeiras de plástico como as de clínica de convênio. Olhei para minhas mãos, onde encontrei um papel de senha com o número 12. Quando finalmente encontrei o visor de senha, marcava -639. Apitou e exibiu o número: -638. Não há muito o que se fazer. Eu não podia dormir e não sabia onde estava, ainda. Por sorte, uma pequena portinhola se abriu, em uma parede cinquenta metros à frente, de lá vi sair um ser com pés de cabra, chifres de boi e olhos de peixe. — Senhor Henrique Cruz! Me levantei e corri em direção. Ele apenas sinalizou que eu entrasse. Parecia um escritório. Me ofereceu uma cadeira para sentar e posicionou-se do outro lado da mesa. — Pois bem! O senhor morreu — disse ele com voz grave. — Antes de prosseguirmos, vou fazer uma pequena entrevista para mapear comportamentos que ajudarão os juízes a...
Assim que entrou no bar, ela sentiu a tensão no olhar de todos os presentes. Uma mulher bonita não deveria entrar num bar de homens, ainda mais com um vestido vermelho curto e decotado. Não, não deveria. Ela sentou-se em uma mesa de dois lugares, colocou a bolsa no colo, e esperou. Relutante, um garçom velho ofereceu-se: -Pois não, madame. -Uma dose de vodca, por favor. Pura e gelada, apenas. Atrás da Madame Richter, três homens jogavam cartas e com a gritaria deles todos no bar sabiam que era García quem estava ganhando. Mesmo que alguns estivessem muito bêbados, nenhum homem arriscava dirigir uma única palavra á bonitona da mesa 7, mas nenhum deles conseguia parar de olhar com desejo o corpo da mulher. Então o velho trouxe uma bandeja com um copo e uma garrafa. Aquele lugar misturava todos os bares do mundo. O chão de madeira escura e a iluminação feita por lustres baratos. Os balcões limpos e três garçons usando de uniforme apenas um avental por cima de uma camisa. Hav...
Ela dizia que eu sou louco por agradecer a torradeira por ter feito as torradas perfeitamente. -Você sabe que os objetos não ouvem. Por que você não me agradece quando eu faço seu almoço? Eu agradecia todas as vezes, mas ela não ligava. Ela não queria que eu agradecesse e sim que eu elogiasse o macarrão sem sal. Eu dizia: -Macarrão é massa e tomate é fruta! Se não colocar sal o prato fica doce! Então terminamos nosso namoro. ... -Muito obrigado pelos sessenta minutos de prazer que você me ofereceu! -São duzentos reais Agora eu agradeço as prostitutas pelo sexo, ao microondas pela comida, ao meu gato pelo carinho e Maria Cecília não me faz mais falta nenhuma!
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