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Mostrando postagens de 2018

Dani

-Filho, é uma festa de adultos. Daniel sabe que não é a primeira vez que os pais precisam passar uma noite fora, “porque é importante”. O problema de verdade é que dessa vez Dani, como a mãe prefere chamar, não terá o irmão mais velho cuidando dele. “ É importante, envolve o emprego do papai” - disse a mãe de Daniel. - “E vai ser tão chato, não vai ter ninguém da sua idade”. Mas Léo, o irmão de Dani, ele sim era grande o suficiente para ir á festa. Quatro anos mais velho e com síndrome de Down, Léo é dotado de um carisma inocente que encanta os corações mais sensíveis e amedronta os corações mais rígidos. O que Dani ainda não entendia, é que a presença do irmão na festa chamaria todas as atenções (e toda a pena) para o pai dos garotos, que assim garantia uma promoção seguida de aumento de salário. Mas Daniel só conseguia entender tudo isso como uma situação muito confusa. De um lado, era velho o suficiente para ficar sozinho em casa, pela primeira vez por...

O último Banquete de Jorge

O miserável agradeceu a marmita: -Muito Obrigado dona Lourdes. Se precisar de algum trabalho de casa como carregar caixas ou cortar a grama, eu faço na maior boa vontade para a senhora. -Não há de quê, filho. Já estive em situação parecida com a sua. É bem ruim precisar pedir por coisas tão básicas como comida. Jorge, o miserável, andou por meia hora até o parque, onde entrou no banheiro público e cagou. Terminado o serviço, usou   a pia. Enquanto jogava água na cara para umedecer a barba e se refrescar, pensava na situação anterior. “Dona Lourdes já foi uma miserável” “isso explica aquelas cicatrizes no rosto, não?”, ”marcas de um estupro, algo assim” “E ela tem toda aquela comida guardada, só para ela” “Quantas pessoas se satisfariam com aquilo tudo?” No Boca-a-boca a palavra se espalhou: Um banquete gratuito no sábado, na esquina do parque Água Azul. Uma mesa enorme, tirada da casa de Dona Lourdes, estava estendida com toalha e comida...

Ataíde

-Ou. P...p...para onde vai esse ônibus? -Esse aqui vai lá pro terminal Nova Bahia -Vixi. Não sei não, acho que peguei o ônibus errado. O que é isso que você está lendo? -Edgar Allan poe. conhece? -Não conheço não. Essas letrinhas aí eu nem enxergo. Minha ex mulher que lia, um livro desses daí ela lia num supetão. Meus filho lia também. Mas eu não falo com eles faz tempo. Canto tempo você leva pra ler um livro desses? -Eu vou lendo devagarinho, um pouco por dia. Não para pra contar não -Hã? -Leio um pouco por dia, nunca contei. -Ah... Eu nem sei pra onde esse ônibus vai. -Pra onde você quer ir? -O quê? Ih rapá, pra onde eu quero ir? Eu queria minha mãe me abraçando. -Ah. -Vou lá pra casa da minha mãe mas esse ônibus tá indo pro lugar errado. Leia aí. pode ler ...

Homem de Ferro

-A partir de agora você vai sozinho – Disse a mãe com o coração apertado. – Preciso Voltar ao trabalho. -Mas mãe, esse... -Não. Você está grandinho demais para isso. Você consegue chegar em casa sozinho. Só pegue o ônibus vinte e seis e desça na rua atrás da rua de casa. A mãe diz isso contra a própria vontade. O que ela realmente quer é levar o filho para a casa segurando-o pela mão, deixa-lo no quarto assistindo á televisão e colocar um cadeado no portão quando voltar para o trabalho. Mas ela também sabe que não dá tempo, se fizer isso, chegará atrasada e será demitida. Além do mais ela sabe que o filho Cauã agora é um homem crescido e apesar de todas as deficiências mentais, ela pode morrer a qualquer momento e quando isso acontecer o filho tem que saber se virar sozinho. Quando ela beija a testa do filho e dá as costas, sabe que não pode olhar pra trás. Ele vai esperar que ela suma, virando a esquina e só então vai voltar para casa. “Se eu olhar para trás, vou querer vol...