Eu pensava que a lealdade e a
fidelidade eram as mais importantes qualidades que uma pessoa poderia ter em
qualquer relação, seja de amizade, trabalho ou casamento. Cheguei acreditar no dito popular “mulher de
amigo meu, pra mim é homem” que meu tio bêbado tanto repetia. Mas depois de
conhecer Dafne, precisei reformular o dito para “Mulher de amigo meu pra mim é
homem, mas um homem muito cheiroso”.
Dafne era o
tipo de mulher que me faria matar alguém, em troca de um simples toque de
lábios. Eu era capaz de me suicidar por ela em troca de um beijo rápido. Eu faria qualquer coisa para tê-la nem que fosse somente uma vez.
...
Tudo começou no
shopping center. Na mão esquerda, eu carregava pela alça plástica que saía de
dentro da caixa, um aparador de grama Tramontina que comprei na “Constru & Cia” do
shopping. A mão direita segurava um celular. Eu andava rápido, em dúvida se
seria melhor tomar um sorvete ou comprar um milk shake. Tentei ultrapassar um
casal de idosos que empurrava um carrinho de bebê e ao contornar a
velha, bati com a caixa do aparador de grama na sacola de uma mulher.
Uma cópia de luxo do "Alice no país das maravilhas" saltou
da sacola, e uma caixa de morangos deslizou pelo chão. Xinguei e franzi as
sobrancelhas enquanto me agachava para pegar o livro do chão. A mulher pegou
sua caixa de morangos. Erguemos a cabeça ao mesmo tempo e minha raiva deu
lugar á mais pura vergonha. Eu acabara de atropelar a mulher mais linda do
mundo com um aparador de grama.
Ela sorriu,
agradeceu pelo livro, pediu desculpas, e recolheu tudo dentro da sacola.
-Desculpe
novamente, estou com pressa! - E ela saiu andando na direção que estava antes
de eu atropelá-la
Até então eu
não tinha dito nada além dos xingamentos iniciais. Assisti por alguns segundos enquanto ela saia,
ajeitando o cabelo.
Por três meses
eu lembrava ao menos uma vez por dia daquele rosto. Os dentes perfeitos,
provavelmente corrigidos por um aparelho enorme na infância. Os cabelos
ondulados artificialmente, com ar de "não me toque ou eu desmancho" e os olhos
cinzentos. Me arrependia amargamente de não ter ao menos respondido "Você
não precisa se desculpar, eu quem te atropelei", ou talvez "que pena,
vamos tomar um sorvete".
Foi então, que
Pablo me disse: "Você precisa conhecer minha namorada". E eu
precisava mesmo. Quando Dafne desceu do carro, minhas bolas se encolheram ao
ponto de parecerem o caroço de um pêssego.
Ela nunca se
lembraria de mim, não é?
Não, ela nem
olhara para meu rosto naquele dia.
-Ei, você não é
o cara que me atropelou no shopping?
Pablo me olhou
torto, e começamos a contar o que houve. Claro, não contei nada sobre o que
senti, e terminamos a conversa dando risadas.
"Não é
todo dia que se é atropelado por um cortador de grama"
...
Quase um ano se
passou. É aniversário de Dafne. Como melhor amigo do casal, fui o primeiro convidado a chegar. Bebi muito, e apaguei em algum canto da casa, talvez a porta do
banheiro. Quando acordei, ás três da manhã, noventa por cento dos convidados já
tinham ido embora.
Fui para a
varanda e vasculhei o freezer botado próximo á porta dos fundos da casa, buscando por
uma última cerveja. Sentei me em um banco de dois assentos e bebi em silêncio.
Cheiro de
morangos. Uma silhueta magra sentou-se no escuro, no chão bem próximo a mim.
Levantei do banco, e sentei no chão ao lado dela.
-Que festa,
hein!
-Você dormiu
metade dela. Perdeu as melhores partes.
-Eu não devia
ter exagerado na vodca.
-Não mesmo...
Alguns segundos
de silêncio passaram tão lentamente que pareciam horas. Dafne quebrou o gelo,
olhando para mim e falando em tom sério:
-Eu daria
qualquer coisa por um cigarro.
Eu olhei de
volta para ela, ainda quieto.
-Eu não tenho
aqui comigo, mas posso conseguir um.
Me levantei,
entrei na casa, e peguei um maço de cigarros no bolso de um rapaz que dormia no
chão da cozinha. Eu nunca tinha o visto na vida.
-Você disse que
daria qualquer coisa pelos cigarros?
-Qual-quer-co-i-sa!
Dafne encostou
os labios dela nos meus. Os seios firmes encostaram em mim, e meu pau ficou
duro na hora.
...
Por quase um
mês, trocávamos mensagens todas as noites, mas Pablo nunca dava uma
oportunidade. Quando não estava com Dafne, ele estava comigo, o melhor amigo.
“tá td bem? Vc n
fala cmg há dois dias.”
22:36 p.m.
“Sim, está tudo
bem. Briguei com Pablo esta tarde. Estou confusa”
22:38 p.m.
“Ele ainda n
falou cmg, deve estar bebendo em algm canto”
22:39 p.m.
“Não tenho
culpa se ele é um babaca”
22:45 p.m.
“Onde vc está?”
22:47 p.m.
“Em casa,
sozinha. Porque você não aparece aqui?”
22:50 p.m.
“Essa hora?”
22:51
p.m.
“É a primeira
oportunidade que temos desde meu aniversário, você vai perder?” 22:51 p.m.
Demorei quinze
minutos para tomar um banho, e outros dez para me trocar. À meia noite eu
estacionava meu carro na frente do portão de Dafne.
“Estou aqui”
00:02 a.m.
O portão se
abriu. Entrei com o carro e apaguei os faróis. Dentro da casa, escuridão total.
Bati na porta, mas ninguém respondeu.
Silêncio. Bati novamente. Mais silêncio.
Forcei a
maçaneta mas a porta estava destrancada. Procurei pelo interruptor, que não me
recordei direito onde era. Tateando a parede, quase enfiei o dedo na tomada.
Encontrei o interruptor em cima dela.
Quando as luzes
se acenderam, um susto. Dafne estava deitada no sofá, nua.
E ainda, além de
nua, Dafne estava inconsciente. Um bastão de Baseball enfiado em sua Vagina, e
algumas manchas roxas pelo corpo. Primeiro, pensei que estava morta, mas
reparei o movimento do peito quando respirava..
-Ei, Dafne!
E Pablo, meu
melhor amigo e namorado de Dafne, saiu do interior da casa com uma arma na mão.
Apontou a pistola para mim. Pablo estava com as mãos trêmulas.
-Você veio aqui
pra comer ela, não é? Então é isso que você vai fazer. Tira o taco e come ela.
-Calma cara,
vamos conversar.
Pablo disparou
para cima.
-Eu não estou
brincando. Tira a porra do taco e come ela!
Dafne não se mexia.
-Você só pode
ter perdido a cabeça.
Pablo atirou em
meu pé. O susto e a dor despejaram tanta adrenalina em meu corpo, que faria
qualquer coisa para não morrer.
-Tira a roupa e
come ela, seu filho da puta!
Eu obedeci para
não morrer. Dafne apenas suspirava, de olhos fechados.
-Chupa os
peitos dela!
Dafne, meu
amor. Se você soubesse o tanto de desejo que eu tive em você. Seu corpo ainda me
dava tesão, mesmo naquele estado.
- Agora pega o
taco, e bate nela.
-O que?
Pablo disparou
para cima.
-Bate nela, como
se fosse um joão bobo. Bate nela.
Para não
morrer, eu obedeci. Dafne soltou um fraco gemido.
-Mais, Bate
mais. Bate na cara dela”
Escutei um osso
se quebrar. Agora O rosto de Dafne não era mais tão belo. Dentes caídos, nariz
quebrado, e o cabelo, outrora arrumado, estava ensebado de sangue.
-Está bom –
Disse Pablo.
Me joguei ao
chão, e desabei a chorar, com o braço pendurado no sofá. Pablo passou por trás
de mim, e pegou uma câmera, escondida por perto da TV. Pablo colocou a câmera
por trás da pistola, e descarregou os últimos seis tiros no corpo da namorada.
- Caralho, essa
foi gostosa pra caralho - Eu disse, aliviado - Mas você poderia não ter atirado
no meu pé. Eu vou ficar aleijado, seu desgraçado.
-Desculpa, mas
atirar no seu pé foi gostoso pra caralho. Vamos, quer um sorvete?
Fidelidade e
Lealdade aos amigos ainda é minha maior qualidade.
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